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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Breve análise do Cortina de Fumaça

Rodrigo Mac Niven, diretor do documentário "Cortina de Fumaça", no Festival Internacional de Cinema do RJ

O documentário “Cortina de Fumaça”, de Rodrigo Mac Niven, lançado no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro no dia 24.09, abrindo a sessão Midnight Movies, no cinema Odeon, é de uma relevância inquestionável. Trata-se do primeiro documentário brasileiro que coloca questionamentos acerca do proibicionismo existente no que se refere à questão das drogas, atribuindo atenção especial ao Rio de Janeiro devido ao fato de que a latência dos problemas gerados pelo mercado paralelo do tráfico de drogas nesta cidade é de forte intensidade.

As informações apresentadas no decorrer da película por médicos, policiais, pesquisadores e militantes políticos, brasileiros e estrangeiros, demonstra que há uma “cortina de fumaça” que impede que a sociedade visualize o real problema existente no que se refere à política da guerra às drogas.

O mapeamento da geopolítica das drogas no mundo coloca os EUA em mais uma posição de interventor, e que utilizou a justificativa de combate aos entorpecentes para militarizar os países, e expandir seu raio de ação imperialista principalmente na América Latina. Isso se reflete nos constantes ataques deste para erradicar plantações de coca na Bolívia e Peru, que utilizam esta planta como parte da cultura milenar dos povos andinos. O mais interessante é o levantamento histórico feito pelos pesquisadores, em especial do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, da USP, demonstrando que o uso da maconha por minorias étnicas nos EUA fora motivo de aumento de criminalizar essas populações devido à tradição preconceituosa, racista e xenófoba existente neste país, acusando-os de serem responsáveis pelo aumento da violência contra indivíduos brancos e ricos.

A abordagem feita no documentário que implica uma orientação do saber clínico demonstra a resistência que a medicina tradicional impõe no que se refere ao uso da maconha em tratamentos de pessoas com doenças como a Aids, câncer, em casos de dores crônicas, e como o proibicionismo, em sua mais radical postura, impede que se avance nas pesquisas desta natureza.Tudo isto devido ao fato de que a indústria fármaco-química iria despencar em seus lucros, uma vez que o remédio natural pode ser plantando dentro de casa em jardins. Além disso, desmistifica toda a lenda criada em torno de que a cannabis destrói neurônios, provoca perda de memória, que deixa o indivíduo usuário agressivo, dentre outras formas de se demonizar a maconha.

Todo o brilhantismo do documentário se completa com os depoimentos de indivíduos que fazem uso da maconha medicinal, dos cultivadores de maconha, das feiras de cultura cannábica que existem em países como o Canadá, e a postura de grandes intelectuais se colocando a favor de uma revisão e na conseqüente modificação radical na política de drogas vigente na maioria dos países do mundo.

Uma crítica que pode-se atribuir ao filme é a presença de uma citação do economista norte-americano, Milton Friedman, um dos teóricos da doutrina neoliberal, e que foi aplicada pelo presidente Ronald Reagan, em 1989, nos EUA, e sob a égide deste pensamento desenvolveu-se a política de guerra às drogas com suas infinitas conseqüências sociais, econômicas e políticas. A participação do Fernando Henrique Cardoso e do Fernando Gabeira também são alvos da crítica. Isto se deve ao fato de que o ex-presidente da república, durante seus 8 anos de mandato, aplicou o mesmo receituário neoliberal, ampliando a militarização no tratamento das questões que envolvem as drogas sendo possível visualizar a maios repressão aos usuários e a constatação de uma guerra falida, e o Gabeira que, negando sua militância política pela legalização da maconha, ultimamente tem se colocado contra esta mudança legislativa, talvez devido a sua candidatura ao governo do estado do Rio de Janeiro e o possível desapontamento que esta postura legalista poderia causar aos seus eleitores. Apesar de todos estes serem grandes intelectuais e se colocarem (pelo menos o FHC e o Milton Friedman) em favor de uma política pública legalista, não dá para abolir da história o que fora feito por estes e o que protagonizaram no cenário político brasileiro e mundial. Há vários outros nomes da política nacional, assim como teóricos ao redor do mundo, que poderiam ter sido entrevistados ou citados em lugar destes acima descritos.

Porém, não torna diminuto de forma alguma o conteúdo do filme. Muito ao contrário, podemos considerá-lo um marco cinematográfico brasileiro e que servirá como um instrumento com uma discussão de alto nível para esclarecimento da sociedade, na luta pela legalização das drogas, em particular a cannabis, e as políticas públicas voltadas para o atendimento das questões que envolvem substâncias psicoativas. Infelizmente, é sabido que este tipo de informação não é expandida para a maioria da população, ficando restrito a um grupo que não é maioria e que não é hegemônico. Este documentário foi realizado sem nenhum patrocínio e/ou apoio de leis de incentivo à cultura, mas  filmes assim é que são as melhores produções.

Na Confraria do cinema pode-se ler outra crítica do filme ~> http://www.confrariadecinema.com.br/filme.jsp?id=2346

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Entrevista exclusiva com diretor do filme Cortina de fumaça - pelo Coletivo DAR/SP

Produzido de forma totalmente independente, o documentário Cortina de fumaça foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, e terá sua primeira exibição pública no dia 24, à meia noite. O DAR conversou com exclusivdade com Rodrigo Mac Niven, diretor deste filme que têm muito o que dizer. 

DAR – Pra começar gostaríamos que contasse um pouco de sua trajetória e de onde surgiu a ideia para fazer o documentário. 

RODRIGO MAC NIVEN: Sou jornalista, também fiz cinema e sempre fui ligado ao audiovisual. Ainda na faculdade de jornalismo já trabalhava em produtoras como cinegrafista, editor e finalizador de programas de TV. Há 5 anos abri minha própria produtora para poder desenvolver livremente projetos que me interessam. A idéia de fazer o documentário surgiu, lá no início, da leitura de um livro do jornalista Denis Russo; MACONHA, de uma coleção da Superinteressante. Me surpreendi com a leitura e comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Fui fundo e não parei mais. Posso dizer que nesse caso, a maconha foi a porta de entrada para entender a complexa questão das drogas em todos os seus aspectos.

DAR – Como foi o processo de produção, captação de recursos, etc?

MAC NIVEN: Não houve qualquer captação de recursos. O documentário é resultado direto da minha inquietação. Fiz toda a produção de uma forma muito livre. Entrei em contato diretamente com todos os entrevistados. Claro que tive ajuda de muita gente, não se faz nada sozinho. Mas as viagens pra fora do Brasil fiz totalmente só. Eu e minha câmera. Eu queria conversar pessoalmente com essas pessoas.

DAR – Por que a escolha do título? Acredita que este debate ainda não é feito de forma aberta no Brasil?

MAC NIVEN: O título é explicado ao longo do filme. Prefiro que as pessoas assistam para pescar a mensagem. Acredito que o debate é raso porque as pessoas estão desinformadas. Elas não receberam e não recebem informação honesta e científica sobre esse tema. As discussões se perdem na superfície moralista das questões… aí não se consegue andar.

DAR – Na divulgação vocês utilizam a frase “vocês precisam ouvir o que eles têm para dizer”, o que de importante você acredita que seu filme tem para dizer?

MAC NIVEN: O filme é uma coletânea de depoimentos que contam parte de uma história muito complicada e polêmica que é a política de drogas. Essa história é reveladora, pelo menos foi pra mim. Acredito que também será para muita gente. Digo reveladora porque coloca na mesa de discussão fatos e argumentos pouco conhecidos pelo grande público, em geral preconceituoso e desinformado. Essas pessoas com as quais conversei já questionam a política proibicionista há muito tempo e só agora poderemos ver e ouvir na tela grande essas argumentações. O filme fala sobre vários aspectos dessa discussão mas se eu tivesse que definir o que de mais importante o filme tem pra dizer, diria que é a urgência de repensarmos nossa sociedade. As dinâmicas sociais mudam constantemente e precisamos que nossas idéias acompanhem essa transformação. Isso vale para tudo na sociedade. O doc pega essa idéia e aplica na discussão da política proibicionista de drogas.

DAR- Como espera que será a recepção do público? A divulgação será feita toda de forma independente?

MAC NIVEN: Sinceramente não sei. O tema é difícil e confesso que o doc tem alguns depoimentos bem fortes que podem incomodar algumas pessoas menos abertas a novas perspectivas. Como falei, o tema é delicado, envolto por camadas morais e principalmente por muita desinformação. A divulgação foi feita totalmente independente através das redes sociais e email. O que vai acontecer, agora que estamos no Festival Internacional do Rio, eu não sei.

DAR – Qual entrevista te marcou mais? Por quê? E qual foi a mais difícil de conseguir?

MAC NIVEN: Difícil dizer… mesmo. Conversei com pessoas muito inteligentes e competentes no que fazem. Cada entrevista … muitas descobertas. Foi realmente um prazer enorme conhecer essas pessoas e ter o privilégio de conversar com elas. Tive a sorte de conseguir falar com todo mundo que queria sem grandes dificuldades. É preciso ter paciência e persistência. Com esses dois Ps se consegue quase tudo.

DAR - Você tem medo de sofrer algum tipo de represália da justiça por conta do filme? Por exemplo alguma acusação de apologia?

MAC NIVEN: Já pensei sobre isso… lá no início do processo de montagem. Mas não penso mais nisso porque o filme não faz apologia, o filme mostra depoimentos de pessoas sérias, gabaritadas no que fazem e que não estão brincando. Pessoas que estão pensando a nossa sociedade de forma honesta, humana e mais tolerante. Não é isso que todos queremos? Então não tem apologia, tem ciência, discussão honesta, argumentos.

DAR – Você acredita que neste momento é possível identificar um ascenso do debate sobre drogas, nacional e internacionalmente? Por quê?

MAC NIVEN: Sem dúvida. Só do “Cortina de Fumaça” estar num Festival Internacional de Cinema, que é o mais importante da América Latina, abrindo uma das mostras mais tradicionais… já diz que a sociedade brasileira está se abrindo. Lentamente, mas está. No Brasil ainda estamos bem atrasados… fui em um congressos nos EUA e já tem projetos bem ousados de legalização das drogas… aqui ainda estamos iniciando as discussões sobre uso medicinal da maconha. Na Califórnia essa discussão já foi… há tempos… aliás o doc fala sobre isso. Visitei os dispensários de Oakland, na Califórnia. Já melhorou muito, mas ainda temos, principalmente no Brasil, que quebrar muitos “pré-conceitos”, e isso acho que é o mais difícil.

DAR – Por fim, gostaria que apontasse qual sua opinião pessoal sobre o melhor modelo social de se lidar com as drogas hoje ilícitas. 

MAC NIVEN: Não sou especialista no assunto, sou documentarista. Claro que posso dar minha opinião e hoje tenho muito mais informação do que tinha há dois anos atrás, quando comecei essa empreitada do filme. Pra mim, está claro que legalização é a melhor opção. Por uma questão de princípios e por uma questão de bom senso.
Lembrando que legalização não é o que muitos pensam, principalmente os que são radicalmente contra. Legalizar é colocar dentro da lei, é regulamentar, como são quase todas as atividades que envolvem compra e venda. Legalizar é determinar como o mercado será estruturado. Da mesma forma que existe o mercado de bebidas alcoólicas, do cigarro, etc. Sei que isso não é simples de se fazer da noite para o dia, mas essa deveria ser a meta. Que a discussão da maconha abra esse caminho, mas acho que a distinção entre drogas lícitas e ilícitas foi uma invenção desastrosa que beneficiou e beneficia determinados grupos… mas essa é uma discussão muito mais profunda.

FONTE: http://coletivodar.wordpress.com/2010/09/14/entrevista-exclusiva-com-diretor-do-filme-cortina-de-fumaca/

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Cortina de Fumaça" no FestRio2010 - EXIBIÇÕES



O documentário Cortina de Fumaça foi selecionado para ser exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio 2010, maior festival da América Latina que recebe anualmente cobertura maciça da mídia brasileira e sul-americana.Abrimos, no dia 24 de agosto (sexta à meia-noite), a Mostra Internacional Midnight Movies, uma da...s mais tradicionais e interessantes do Festival com filmes ditos "ecléticos e transgressores".Além do dia 24, duas outras exibições (sem data ainda) acontecerão durante o Festival, que vai do dia 23 de setembro a 7 de outubro.O Festival Internacional de Cinema do Rio é só o começo.O novo site já está no ar com muito mais conteúdo sobre o filme.

www.cortinadefumaca.com

Fonte: Facebook - Coletivo Projects ~> http://www.facebook.com/#!/pages/COLETIVO-Projects/116214005092611