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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Maconha, uma planta medicinal

RENATO MALCHER LOPES


A atual legislação do país sabota a pesquisa e impede a exploração assistida das baratíssimas propriedades medicinais da maconha


Houve época em que o uso de determinadas plantas medicinais era considerado bruxaria, e às almas das bruxas restava receber benevolente salvação nas fogueiras da Inquisição. Atualmente, o estigma que a maconha carrega faz, para muitos, soar como blasfêmia lembrar que se trata, provavelmente, da mais útil e bem estudada planta medicinal que existe.
Pior, no Brasil, se alguém quiser automedicar-se com essa planta, mesmo que seja para aliviar dores lancinantes ou náuseas insuportáveis, será considerado criminoso perante uma lei antiética, sustentada meramente por ignorância, moralismo e intolerância.
Apesar de sua milenar reputação medicinal ser inequivocamente respaldada pela ciência moderna, no Brasil, a maconha e seus derivados ainda são oficialmente considerados drogas ilícitas sem utilidade médica. Constrangedoramente, acaba de ser anunciado, na Europa e nos EUA, o lançamento comercial do extrato industrializado de maconha, o Sativex, da GW Pharma.
Enquanto isso, nossa legislação atrasada impede tanto o uso do extrato quanto o uso da planta in natura ou de seus princípios isolados.
Consequentemente, pessoas em grande sofrimento são privadas das mais de 20 propriedades medicinais comprovadas nessa planta.
Um vexame para o governo brasileiro, já que, em países como EUA, Canadá, Holanda e Israel, tais pessoas poderiam, tranquila e dignamente, aliviar seus sofrimentos com o uso da maconha e ver garantido seu direto de fazê-lo com o devido acompanhado médico.
Ingeridos ou inalados por meio de vaporizadores (que não queimam a planta), os princípios ativos da maconha podem levar ao alívio efetivo e imediato de náuseas e falta de apetite em pacientes sob tratamento quimioterápico, de espasmos musculares da esclerose múltipla e de diversas formas severas de dor -muitas vezes resistentes aos demais analgésicos.
Pesquisas recentes indicam também o potencial da maconha para o tratamento de doença de Huntington, do mal de Parkinson, de Alzheimer e de algumas formas de epilepsia e câncer. A redução da ansiedade e os efeitos positivos sobre o estado emocional são valiosas vantagens adicionais, que elevam sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas e, por conseguinte, seus prognósticos.
A maconha não serve para todos: há contraindicações e grupos de risco, como gestantes, jovens em crescimento e pessoas com tendência à esquizofrenia. Em menos de 10% das pessoas o uso descontrolado pode gerar dependência psicológica reversível. Mas, ponderados riscos e benefícios, para a grande maioria das pessoas, a maconha continua a ser remédio seguro.
A biotecnologia brasileira tem todas as condições para desenvolver variedades com diferentes proporções de princípios ativos, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia das plantas (ou de seus extratos) para cada caso.
Indiferente, contudo, à ciência e à ética médica, a atual legislação brasileira sabota nossa pesquisa básica, clínica e biotecnológica nessa área de ponta e impede por completo a exploração assistida das preciosas e baratíssimas propriedades medicinais dessa planta.
É hora de virar esta página carcomida pelo obscurantismo e pelo desdém com o sofrimento humano, fazendo valer não apenas direitos fundamentais dos indivíduos mas também as próprias diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por objetivo: "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".

RENATO MALCHER LOPES, neurobiólogo, mestre em biologia molecular e doutor em neurociências, é professor adjunto do departamento de fisiologia da Universidade de Brasília e coautor, com Sidarta Ribeiro, do livro "Maconha, Cérebro e Saúde".
 
FONTE: Folha de S. Paulo

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Revista "Time" da semana (22/11) - The United States of Amerijuana

Para quem quiser ler a revista "Time" dessa semana pode fazer o download aqui no blog. Depois do plebiscito na Califórnia e da aprovação que permite o uso da maconha medicinal no Arizona, a revista traz informações sobre a santa erva, principalmente o seu uso medicinal, o que pensam e fazem com ela, além da situação desta nos diversos estados norte-americanos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cientistas brasileiros querem derrubar barreiras à pesquisa com maconha

Em países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, a indústria farmacêutica avança na produção de remédios com substâncias da planta. Entraves legais impedem investigações similares no Brasil

Jones Rossi
Linha de produção do Sativex, medicamento feito à base de substâncias extraídas da maconha.
Linha de produção do Sativex, medicamento feito à base de substâncias extraídas da maconha. (Divulgação)
 
Foi um brasileiro, o médico Pernambuco Filho, durante a II Conferência do Ópio da Liga das Nações, em 1924, que deu início à onda de combate à maconha no mundo inteiro
A maconha foi trazida ao Brasil por escravos africanos, ainda durante o período colonial. Disseminou-se entre índios, mais tarde entre brancos e, por algum tempo, sua produção chegou a ser estimulada pela coroa. Até a rainha Carlota Joaquina habituou-se a tomar chá feito com a erva, depois que a corte portuguesa se mudou para o Brasil, em 1808. A partir de meados do século XIX, circulou por aqui a ideia - importada da França - de que a Cannabis poderia ser usada com fins medicinais. Como anunciava uma propaganda das cigarrilhas Grimault, em 1905, a erva serviria para tratar desde “asmas e catarros” até “roncadura e flatos”.Em 1924, contudo, começou a difundir-se, não apenas no Brasil, mas em âmbito mundial, a tese de que o consumo da maconha era um mal. E um médico brasileiro teve papel importante nessa história.
Reprodução
Propaganda dos cigarros Grimault, de 1905
Propaganda dos cigarros Grimault, de 1905
Durante décadas, o ópio foi o maior problema de saúde pública relacionado às drogas. A Liga das Nações, uma espécie de embrião da Nações Unidas, promoveu duas conferências internacionais sobre o ópio. Na segunda conferência realizada em Genebra, em 1924, explica Elisaldo Carlini, professor do departamento de Psicobiologia da Universidade Federal Paulista (UNIFESP), “o representante brasileiro desandou a falar mal da maconha, dizendo que ela 'era pior que o ópio'”. 
A fala do médico brasileiro Pernambuco Filho está registrada em ata e entrou para a história por ter convencido, com o apoio do representante egípcio, os outros países a incluírem a maconha no rol de substâncias a serem combatidas junto com o ópio e a cocaína. O mais curioso é que Pernambuco Filho nunca tinha se pronunciado contra a maconha antes da conferência, nem voltou a referir-se a ela naqueles termos. Não se sabe por que ele comprou essa briga.
Volta do uso medicinal — A partir do testemunho do brasileiro a maconha caiu em desgraça, e a Convenção Única de Entorpecentes da ONU, realizada em 1961, reiterou as restrições à erva, inclusive para o uso científico. Pouco mais tarde, contudo, com o afrouxamento da proibição promovido por alguns países, como a Holanda, o uso medicinal e científico da maconha voltou a ser discutido seriamente. 
Uso medicinal não quer dizer, necessariamente, uso da maconha fumada. Novos remédios,  aprovados em países como Canadá e Estados Unidos, têm pouco a ver com as cigarrilhas Grimault do início do século passado. O Marinol, por exemplo, produzido nos EUA, é feito com THC (tetraidrocanabinol), a principal substância ativa da maconha, sintetizado quimicamente. Ele combate a caquexia, falta de apetite frequente em pacientes com câncer ou aids. O Sativex, desenvolvido na Inglaterra e hoje comercializado em mais de 20 países, alivia a dor em pacientes com câncer e também combate dores nervosas e sintomas da esclerose múltipla. Ele é vendido na forma de extrato de canabidiol, com aplicação em spray oral.
"Burocracia paralisante" - Enquanto laboratórios estrangeiros patenteiam medicamentos como esses, pesquisadores brasileiros se queixam - conforme declaração de um simpósio internacional realizado em maio deste ano, em São Paulo - da impossibilidade de realizar pesquisas com a planta por causa de uma "burocracia paralisante". Embora a lei que trata do assunto (a 11.343, de 2006) autorize o plantio para fins científicos, a obtenção de autorizações é difícil e excessivamente demorada.
Segundo Elisaldo Carlini, que hoje tem 80 anos e já estudava os efeitos da maconha na década de 1950 com o professor José Ribeiro do Valle (1908-2000), os dois remédios são exemplos claros de que a pesquisa com a Cannabis é promissora e deveria ser encarada de outra forma no Brasil. "O Brasil já ficou de fora de várias pesquisas internacionais porque não obteve a tempo as autorizações para cultivo da planta ou importação das substâncias ativas", diz ele. "Isso não faz sentido."
A opinião é compartilhada por Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação a Dependentes da UNIFESP (Proad). “É ridículo que, por causa de uma mentalidade fundamentalista, a gente não avance a ciência”, diz ele.
Divulgação
 Paciente usa o Sativex, medicamento feito à base de substâncias extraídas da maconha
Paciente usa o Sativex, medicamento feito à base de substâncias extraídas da maconha
Mas o que começou com um brasileiro pode terminar com a ajuda do Brasil. O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), que congrega inclusive cientistas ferrenhamente contrários à descriminalização da maconha, atualmente defende a retirada da droga da lista de “substâncias particularmente perigosas” da Convenção da ONU, o que abriria caminho para o plantio controlado, com finalidade científica, se tornar mais simples.
O simpósio científico mencionado acima também recomendou a criação de uma agência brasileira de Cannabis medicinal, que pudesse testar e aprovar medicamentos feitos à base de maconha ou produzidos a partir de suas substâncias. “Não fazemos apologia do uso da droga, não indicamos seu uso recreativo nem subestimamos seus riscos. Queremos simplesmente poder investigar o potencial terapêutico da planta”, afirma Xavier. “Ciência não combina com preconceito."
(Com reportagem de Natalia Cuminale)

FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cientistas-brasileiros-querem-derrubar-barreiras-a-pesquisa-com-maconha

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Álcool é mais prejudicial que crack, afirma estudo

Segundo pesquisa realizada no Reino Unido, bebidas álcolicas são mais nocivas que todas as outras drogas recreativas, incluindo substâncias ilegais como cocaína, crack e heroína
REDAÇÃO ÉPOCA
Cientistas britânicos liderados por David Nutt, da Universidade de Bristol, afirmam que álcool é mais nocivo que drogas recreativas ilegais, como crack e heroína. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira (1º) no periódico médico Lancet e leva em consideração não apenas os danos pessoais à saúde do usuário, mas também efeitos negativos nas famílias, comunidades e na sociedade como um todo, além de gastos de saúde pública e prisão. Foram avaliadas 20 drogas, incluindo maconha, ecstasy, LSD, anabolizantes e tabaco.

Heroína, crack e metanfetamina são mais perigosas para o usuário, mas levando em conta efeitos na sociedade, álcool é o mais nocivo. Numa escala de risco em que 100 é o máximo e zero o mínimo, as bebidas ficaram com 72 pontos, contra 55 para a heroína e 54 para o crack. A lista continua com metanfetamina (33), cocaína (27), tabaco (26), anfetaminas (23) e maconha (20). Cogumelos (5), LSD (7) e ecstasy (9) ficaram entre os menos prejudiciais.

De acordo com o estudo, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas causa danos em todos os sistemas de órgãos, está ligado a taxas mais elevadas de morte, e ainda tem consequências para as pessoas ao redor do usuário. Álcool também estaria mais relacionado com criminalidade do que a maioria das outras drogas. Os pesquisadores afirmam que combater os danos do álcool é uma estratégia de saúde pública válida e necessária. Nutt também que a proibição e classificação de drogas deviam ter mais ligação com os danos que elas causam. 

FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI184160-15257,00.html

domingo, 24 de outubro de 2010

Refrigerante de maconha vendido com receita


SÃO PAULO - Pensando nos pacientes que fazem uso da maconha medicinal, empresa dos Estados Unidos lança refrigerante à base da erva.


A Dixie Elixirs vende seus produtos somente para pessoas com receita; a prescrição da maconha para tratamentos médicos é uma prática legalizada em 14 estados americanos.

O objetivo dos fabricantes é fornecer os efeitos associados ao uso da planta sem a necessidade de se fumar. Segundo a empresa, o principal objetivo é permitir que os pacientes usufruam sem o estigma geralmente associado a quem fuma maconha – ou, como informa o próprio site, a bebida permite “apreciar com discrição” e é “conveniente, discreta e potente”.
O refrigerante está disponível em oito sabores: limonada, chá doce, limonada rosa, morango, laranja, uva, cerveja e melancia com hortelã (esta última uma dose mais forte, potente, da planta).
A erva usada é orgânica, majoritariamente Cannabis Sativa, e cultivada no Colorado.
A empresa avisa que a bebida pode ser usada sozinha ou associada a outros tratamentos médicos da maconha. Segundo o site, o processo de carbonação do refrigerante (quando o dióxido de carbono é dissolvido) traria um alívio mais rápido ao paciente.
A bebida vem em garrafas recicláveis e só poderá ser vendida mediante apresentação da receita. Estima-se que, nos Estados Unidos, meio milhão de pessoas possuam aval médico para consumir maconha.
No mês que vem, no entanto, a situação pode mudar. É que a Califórnia realiza em novembro um plebiscito para decidir se irá ou não legalizar a comercialização e uso da planta para fins não medicinais (a chamada maconha recreativa). Caso seja aprovada, a liberação permitiria que todo o estado consumisse o Dixie Elixirs sem receita. 

FONTE: http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/refrigerante-de-maconha-vendido-com-receita-20102010-26.shl

sábado, 23 de outubro de 2010

“Punir usuário de maconha não ajuda"

Consenso sobre a questão é um dos poucos alcançados por especialistas em debate sobre a droga na Folha
Psiquiatra contrário à legalização compara ideia de liberar uso a criação da Cracolândia; cientista defende erva
Fotos Daniel Marenco/Folhapress

Defensor do uso medicinal da maconha lê seu manifesto durante o debate na Folha

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
É contraproducente e cruel punir usuários de maconha como se fossem criminosos, e falta uma distinção mais clara entre traficantes e simples consumidores da erva na legislação do país.
Esse talvez seja o único consenso entre especialistas reunidos ontem para discutir o tema em debate organizado pela Folha. Divididos entre defensores da legalização da venda da droga, do uso da maconha como remédio e da manutenção da proibição, os debatedores acabaram ficando entrincheirados.
Em parte, isso se deveu à plateia que lotou o auditório do jornal e, com frequência, interrompeu as falas com aplausos, vaias, gritos e xingamentos. “Pessoal, vamos deixar as pessoas se expressarem na inteireza de seus argumentos”, teve de pedir o jornalista Gilberto Dimenstein, colunista da Folha e moderador do debate.
Os membros da mesa, porém, também acabaram perdendo a paciência e partindo para o ataque em alguns momentos. A falta de acordo sobre a proporção real de usuários no mundo, ou sobre a gravidade dos efeitos da maconha quando comparada a drogas lícitas, como o álcool, ajudou a mostrar como o debate ainda é emocional.
Contrário à legalização, Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), disse que sua posição “era lógica do ponto de vista da saúde pública”.
“A experiência de legalização das drogas ilícitas está aqui perto da gente, é a Cracolândia”, ironizou, criticando o fato de que não há um movimento nacional para tentar controlar o uso do crack com a mesma expressão do que defende descriminalizar a maconha.
A jurista Maria Lúcia Karam, membro da ONG internacional Lead, favorável ao fim da proibição da venda de drogas, argumentou que a guerra contra substâncias ilícitas aumentou a violência e ainda fez baixar o preço delas mundo afora. “Legalizar é controlar os danos causados pela droga. As pessoas só morrem de overdose porque não sabem o que estão usando”, afirmou, sendo vaiada por membros da plateia.

VELHA AMIGA?
O neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e o biólogo Renato Malcher Lopes, da Universidade de Brasília, lembraram que há uma gama considerável de princípios ativos com potencial terapêutico na Cannabis. “Isso foi selecionado ao longo de 5.000 anos de uso”, disse Ribeiro.
Ele é favorável à legalização. “Algumas pessoas realmente precisam ser protegidas da maconha, como grávidas e jovens com cérebro em formação -assim como outras pessoas precisam ser protegidas do leite porque têm intolerância à lactose.”
Marcos Susskind, voluntário que trabalha com dependentes químicos da comunidade judaica, afirmou que, “na sua experiência”, o álcool é menos nocivo do que a maconha. Foi contestado pelos cientistas e se disse surpreso com as propriedades medicinais da maconha inalada, relatadas por Lopes.
FOCO

Estudante pede, “por Deus”, uso medicinal da “Cannabis”
DE SÃO PAULO
Em dado momento da palestra, um rapaz que se identificou como estudante de direito e que se referia a si mesmo como Timóteo Ganja deixou o auditório e foi para um banheiro ali perto. Voltou com um traje de andarilho e as mãos acorrentadas. Esperou o fim do debate para ler um manifesto pelo uso medicinal da maconha.
“Senhores, queremos pedir, por Deus, acima de tudo, compaixão para com esses pacientes terminais. Pessoas estão morrendo sem poder aliviar seu sofrimento”, leu.
Membros da plateia usavam camisetas do movimento Marcha da Maconha. Outro grupo trouxe panfletos explicando como o plantio da erva em casa podia combater o crime organizado. 

FONTE: Folha de S.Paulo – 23/10/2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cientistas criam biodiesel de maconha

Pesquisadores da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, descobriram que a fibra da Cannabis sativa (nome científico da maconha), chamada de cânhamo industrial, tem propriedades que a tornam uma matéria-prima viável e atraente para a produção de biodiesel, um combustível sustentável feito de plantas renováveis.
O combustível feito de maconha apresentou uma alta eficiência de conversão – 97% do óleo foi convertida em biodiesel – passou em todos os testes do laboratório e até apresentou propriedades que sugerem que pode ser usado em temperaturas mais baixas do que qualquer biocombustível do mercado.

A capacidade da planta de crescer em solo infértil também diminui a necessidade de cultivá-la em lavouras, que podem ser usadas para o plantio de alimentos, explica Richard Parnas, professor de química, de materiais e de engenharia biomolecular, que chefiou o estudo.

O cânhamo industrial é plantado em muitas partes da Europa e da índia. A fibra do caule da planta é forte e, até o desenvolvimento de fibras sintéticas nos 1950, era o principal produto usado em todo o mundo para fazer cordas e roupas.

Hoje, em alguns países, a Cannabis ainda é usada como uma fibra, principalmente por não precisar de muita água e de fertilizantes. Mas as sementes, que contêm os óleos naturais da planta, geralmente são jogadas fora.

Parnas diz que são exatamente elas que podem ser usadas para virar combustível. O cientista explica que "alguém que planta cânhamo consegue produzir combustível suficiente para fornecer energia para toda a fazenda a partir das sementes".

Com a ajuda de seus alunos, Parnas usou óleo de semente de maconha virgem para criar biodiesel por meio da transesterificação, o processo mais usado atualmente para a produção de biodiesel. O grupo testou as características do combustível no laboratório de testes do Centro de Ciências Ambientais e Engenharia da universidade.

Recentemente, a universidade americana patenteou um sistema de reator que pode ser adaptado para fazer biodiesel a partir de várias matérias-primas, incluindo a maconha.

Parnas e sua equipe deverão construir uma fábrica de biodiesel, bancados pelo Departamento de Energia americano. O reator será capaz de produzir até 200 mil galões de biodiesel por ano. Embora essa quantidade seja pequena em relação aos reatores de biodiesel comerciais, a principal tarefa da instalação será testar novas formas de produzir o combustível.


FONTE: http://www.administradores.com.br/informe-se/cotidiano/cientistas-criam-biodiesel-de-maconha/38773/

Uso de drogas não é determinante na prática de crimes, aponta dissertação - Jornal da Unicamp





Comportamento criminoso é mais prevalente em portadores de  Transtorno de  Personalidade Antissocial

O uso de drogas ilícitas constitui uma das grandes preocupações das sociedades modernas. Se em vários países esse consumo tem diminuído, em outros, caso do Brasil, ele é crescente. O progressivo aumento da criminalidade tem sido imputado aos usuários de drogas psicoativas (SPA) – assim consideradas aquelas que provocam alterações transitórias no funcionamento cerebral levando, por exemplo, à desinibição provocada pelo álcool, à euforia gerada pela cocaína, ou à diminuição da ansiedade, às sensações de anestesia, alegria, embriagues, ou seja, àquelas que em suma são geradoras de prazer.
Estudo mostra que ser usuário ou dependente de substâncias psicoativas – como o álcool, solventes, maconha, cocaína, crack – não se mostrou determinante na prática de crimes. O comportamento criminoso é prevalente em consumidores de drogas portadores de Transtorno de Personalidade Antissocial.
É o que revela dissertação de mestrado orientada pela professora Renata Cruz Soares de Azevedo e apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp pela psiquiatra Karina Diniz Oliveira. A pesquisa foi realizada com 183 pessoas maiores de 18 anos usuários ou dependentes de substâncias psicoativas que iniciaram acompanhamento em dois dos serviços de referência no tratamento de dependentes químicos de Campinas: o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS-AD) Independência e o Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.
Karina revela que a população estudada era constituída em sua maioria de pacientes do gênero masculino, em geral na quarta década de vida, provenientes da região de Campinas, sem companheiro fixo, escolaridade inferior a oito anos, baixa renda e inatividade laboral. O policonsumo – uso concomitante ou alternado – de diferentes SPA foi muito frequente, principalmente álcool, maconha, cocaína e crack.  O potencial de dependência do crack se revelou maior que de outras substâncias.
Segundo ela, delitos foram cometidos por 40% dessa população, em que 28% de indivíduos apresentam Transtorno de Personalidade Antissocial. Os principais crimes cometidos envolvem lesão corporal, homicídio, furto e roubo. Nesses delitos, afirma Karina, estão envolvidos principalmente sujeitos portadores de Transtorno de Personalidade Antissocial, com antecedentes de uso de solventes, sem religião, com poliuso e dependência a múltiplas substâncias psicoativas, principalmente ilícitas.
Na pesquisa, Karina discutiu os fatores relacionados ao cometimento de crimes em dependentes de substâncias psicoativas que procuram tratamento, centrando o levantamento na descrição do perfil sócio-demográfico; na avaliação do padrão de consumo; na determinação da prevalência de comportamento criminoso e os tipos de crimes praticados; na presença do Transtorno de Personalidade Antissocial; e, para finalmente, correlacionar estas variáveis visando discutir as interfaces e associações.
Revelações
No entender das pesquisadoras, o trabalho desenvolvido revela alguns aspectos muito interessantes. Os dois serviços de atendimentos públicos tomados como base de estudo são procurados por mais homens do que mulheres. Renata esclarece que entre os usuários de drogas a relação é de uma mulher para quatro homens e entre os que procuram o tratamento essa relação passar a ser de um para oito ou até doze. Para a docente, as mulheres têm vergonha de procurar tratamento, principalmente as mais velhas, talvez por causa dos preconceitos que enfrenta. Além disso, os tratamentos são em geral estruturados para os homens, não contemplando as especificidades do uso de drogas entre as mulheres.
Karina considera que a procura por tratamento é em geral postergada, pois as pessoas que os procuram encontram-se na faixa de 40 a 50 anos de idade, embora tenham iniciado o uso de drogas na adolescência. Esses usuários e dependentes, constata, enfrentam nessa fase de suas vidas as consequências socioeconômicas decorrentes, como situação financeira precária, desemprego, separações conjugais, relações familiares e sociais comprometidas.
Embora cerca de 40% desses indivíduos exibam comportamento criminoso, essas taxas são bastante diferentes quando considerados separadamente usuários de drogas lícitas e ilícitas, mudando mais quando se leva em consideração a presença de Transtorno de Personalidade Antissocial. Na população em geral, a taxa de indivíduos portadores desse transtorno é de 3% e entres os usuários de drogas chega a 27%, o que evidencia o significado da presença desse transtorno no comportamento criminoso.
Karina lembra que o usuário de drogas ilícitas está em contato com a criminalidade do narcotráfico, o que o aproxima do crime. Ademais, os efeitos psicoativos das substâncias ingeridas diminuem o medo e podem levar a atos que ele normalmente não cometeria. Ela lembra também que a necessidade intensa pela droga o leva a desconsiderar valores adquiridos de tal forma que mesmo indivíduos criados em famílias que lhe permitem introjetar valores conseguem se afastar de certos comportamentos.
A professora Renata destaca ainda a importância da ampliação das interfaces de áreas muito segmentadas como as médicas e jurídicas no encaminhamento dado a esses usuários porque “tratam-se de pessoas que são presas e julgadas”, diz. Ela defende também “a conexão da área médica com muitos outros segmentos porque as respostas médicas resvalam, além do jurídico, em questões sociais, antropológicas, entre outras e o estabelecimento dessas pontes é fundamental para sair do lugar comum e refletir sobre novas formas de enfrentamento do tema”.
Motivações
Ao considerar os objetivos da pesquisa, Renata afirma que o desejo era o de colocar em pauta a associação que se faz no senso comum, em que o usuário de drogas é considerado muito próximo da criminalidade, principalmente quando a droga é ilícita. Daí a necessidade inicial de levantar quantos dos usuários e dependentes tinham comportamento criminoso. Ela explica que a inclusão da avaliação de personalidade antissocial partiu de dados da literatura que considera que a atitude criminosa se manifesta em indivíduos com personalidade que desconsidera normas e regras, que se guia por um comportamento centrado no querer e fazer, independentemente das consequências e apesar das transgressões.
Segundo Karina, o estudo conseguiu confirmar que a droga age como o elemento ativador de uma tendência comportamental criminosa em uma pessoa que desconsidera o crime. Ela lembra que 85% dos que apresentam esse transtorno antissocial cometeram crimes, taxa que cai para 15% entre os que não o tem. E os crimes destes últimos apresentam menor potencial ofensivo e geralmente estão relacionados a furtos.
As pesquisadoras contam que geralmente o dependente de drogas procura o tratamento quando adquire a percepção dos prejuízos que lhe traz a dependência. Antes disso, ele cede à compulsão do prazer. Elas constatam que, quando ele se decide pelo tratamento, deve encontrar as portas escancaradas para atendê-lo porque talvez, depois, não encontre outro momento de resistência. E muitas vezes isso ocorre devido à demora no atendimento, no alongamento do prazo para consulta.
Karina destaca que uma das razões que faz o dependente procurar o atendimento é a perda de tudo, da família, do emprego e o tratamento constitui alguma coisa a que se possa vincular. Muitos são trazidos pela família porque estão em uma situação crítica e nesses casos não existe apenas um desejo, mas circunstâncias decorrentes da droga que se tornaram insustentáveis.
O trabalho
No trabalho de campo foi aplicado um questionário sócio-demográfico para levantar idade, religião, situação laboral, renda, condições de moradia, profissão, enfim, elementos que permitissem determinar o perfil desse usuário de drogas que procura tratamento em um órgão público e que possibilitassem ainda caracterizar seu padrão de consumo. Com ele, determinou-se a substância consumida, frequência, quantidade e papel da substância na vida do usuário. Em decorrência do uso das drogas, a pesquisadora pode levantar a perda social que o usuário teve em relação à manutenção de uma rede social de amigos, ao convívio com a família, ao emprego. No final, o questionário abordou delitos cometidos e problemas judiciais. Nos casos de delitos, procurou caracterizar o papel da droga em relação ao crime para determinar se os delitos foram cometidos por ação da droga ou para conseguir a droga.
Karina diz que a droga mais presente é o álcool – 40% eram seus usuários exclusivos e destes 100% eram dependentes – seguido da cocaína e do crack, mas muitos deles começaram com o uso de solventes cheirando produtos como cola de sapateiro ou benzeno, tolueno e tiner. Com base no universo estudado, Karina afirma que geralmente a dependência se iniciou com álcool e tabaco, passou pelo solvente e maconha e chegou à cocaína e dela ao crack, devido ao preço e à facilidade de encontrar. Embora não tenha feito parte de seu trabalho, ela lembra que hoje ocorre a passagem direta para o crack.
Publicação
Dissertação: “Perfil sócio-demográfico, padrão de consumo e comportamento criminoso em usuários de substâncias psicoativas que iniciaram tratamento”
Autora: Karina Diniz Oliveira
Orientadora: Renata Cruz Soares de Azevedo
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

FONTE: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2010/ju475_pag07.php#