Por Walter Hupsel
Esqueçam, de uma vez por todas, a Colômbia e a Bolívia. Esqueçam os mitos dos Cartéis de Cali, Medellín e também as Farc. Hoje o narcotráfico chama atenção mais ao norte, no México, responsável por 90% da maconha e cocaína que entram nos Estado Unidos.
Desde que o México resolveu seguir a política de “guerra às drogas” idealizada pelos EUA, já morreram quase 30.000 pessoas, a imensa maioria inocente, como os dois brasileiros que cometeram um único delito: tentar adentrar ilegalmente no sonho americano. Foram capturados na fronteira, junto com mais 70 imigrantes. Como não aceitaram trabalhar para o Cartel Los Zetas, foram executados.
Depois dessa carnificina o governo de Felipe Calderón resolveu agir sobre as forças policiais e afastou 3.200, cerca de 10% do efetivo, sob suspeita de corrupção ou associação ao tráfico. Outro dado estarrecedor é o sequestro de 10 mil pessoas nos últimos seis meses. Sem contar os atentados a bomba contra alvos do Estado mexicano.
A violência do narcotráfico aterroriza e toma o México de assalto. Não é nada difícil perceber a relação de causa e efeito. A violência é fruto direto da política de “guerra às drogas”, que legou mais dinheiro para os cartéis e promoveu mais mortes.
Parece haver uma constante nesta equação: quanto mais “guerra”, mais enfrentamento, que leva a mais armas nas mãos do tráfico, significando mais violência, ou seja, mais mortes. E tudo é consequência da ilegalidade, lá, aqui ou no Afeganistão.
Quando temos um problema, uma disputa, um caso controverso, nós procuramos um árbitro que possa decidir a questão, um juiz tendencialmente neutro que diga de que lado está a razão, quem tem direito ou não.
Imagine que você compre um produto e não pague as prestações do seu carnê. O que acontece? Seu nome vai parar no Serasa, você fica sem crédito na praça, e o seu credor pode pedir a execução judicial de seus bens para quitar a dívida.
Quando um comerciante vende uma mercadoria ilegal ele não pode, obviamente, recorrer a um juiz para processar um consumidor, para ter a dívida quitada. Ao mesmo tempo, o vendedor, querendo manter seu negócio, tem que agir de modo a impedir que outras pessoas sigam o exemplo do devedor e passem também a não pagar pela mercadoria comprada. Assim, o narcotraficante tem que desestimular a conduta do “comprar e não pagar”. O que ele pode fazer exceto coagir, e, em última instância, assassinar o comprador?
De mesmo modo, para expandir seu mercado, conquistar mais clientes num mercado ilegal, ele pode proceder de duas maneiras. Ou aumenta a qualidade do seu produto ou tenta tomar, geograficamente, a “vendinha” do outro comerciante. A primeira opção é quase que inviável já que não tem nenhum órgão ou Inmetro que ateste o grau de pureza de uma droga. Assim sendo, como empresário racional que é, visando aumentar seus lucros, ele busca o único caminho aberto e toma-o à força, na bala.
A proibição também afeta, sobremaneira, as forças de segurança, principalmente a polícia. Na ilegalidade, o traficante precisa se proteger para sobreviver. A proteção incluí a corrupção da polícia, para que não ameace o andamento dos seus negócios. Muito dinheiro envolvido, corrupção, achaque, compra de juízes. Ele quer se manter fora do alcance das forças repressivas, e a melhor maneira de conseguir isso é justamente se imiscuir, criando uma relação de simbiose.
Há também uma relação quase que de necessidade entre o tráfico de drogas e o de armas. Pelos motivos acima expostos podemos perceber que se a proibição gera e estimula esses comportamentos, os chefes do tráfico precisam de armamentos pesadíssimos, de alto poder de destruição, seja para tomar um ponto de venda, seja para atirar de cima de um morro contra a polícia, que atira de volta, sem muita mira e precisão, o que acarreta as nossas mundialmente famosas “balas perdidas”.
Quem sofre com isso? A população indefesa, pega no fogo cruzado entre rifles e pistolas. A população indefesa, que tem que proteger o traficante sob pena de ser réu numa justiça paralela, que é a única que o tráfico conhece.
E, só para mencionar, forma-se ainda uma extensa rede de lavagem de dinheiro do tráfico, bancos e paraísos off-shores que se prestam a esquentar, legalizar o dinheiro obtido ilegalmente. Mas ninguém, por mais puritano e proibicionista que seja, pensa em invadir a Suíça em nome da “guerra às drogas”.
Nem mesmo coagi-la a abrir suas contas. A Suíça é, desde 2002, signatária da ONU. Alguém levantou a voz para que fosse votada alguma sanção a este paraíso fiscal, de lavagem de dinheiro? Não! O capital gerado pelo comércio de armas, drogas, tem livre circulação no mundo, e é bem vindo e estimulado em diversos países… mas é muito mais fácil culpabilizar o consumidor!
Defender a liberação das drogas é, pra mim, um dever ético, ao mesmo tempo que se presta a uma lógica utilitarista. Não sei se a liberação resolveria problemas da violência, mas, com certeza, a proibição a estimula.
O México prova isso. Os morros cariocas também. As vítimas somos nós, baixas colaterais no meio de uma guerra que não terá fim, não, ao menos, enquanto essa política continuar. Afinal, diria Clausewitz, guerra é a política continuada por outros meios.
Desde que o México resolveu seguir a política de “guerra às drogas” idealizada pelos EUA, já morreram quase 30.000 pessoas, a imensa maioria inocente, como os dois brasileiros que cometeram um único delito: tentar adentrar ilegalmente no sonho americano. Foram capturados na fronteira, junto com mais 70 imigrantes. Como não aceitaram trabalhar para o Cartel Los Zetas, foram executados.
Depois dessa carnificina o governo de Felipe Calderón resolveu agir sobre as forças policiais e afastou 3.200, cerca de 10% do efetivo, sob suspeita de corrupção ou associação ao tráfico. Outro dado estarrecedor é o sequestro de 10 mil pessoas nos últimos seis meses. Sem contar os atentados a bomba contra alvos do Estado mexicano.
A violência do narcotráfico aterroriza e toma o México de assalto. Não é nada difícil perceber a relação de causa e efeito. A violência é fruto direto da política de “guerra às drogas”, que legou mais dinheiro para os cartéis e promoveu mais mortes.
Parece haver uma constante nesta equação: quanto mais “guerra”, mais enfrentamento, que leva a mais armas nas mãos do tráfico, significando mais violência, ou seja, mais mortes. E tudo é consequência da ilegalidade, lá, aqui ou no Afeganistão.
Quando temos um problema, uma disputa, um caso controverso, nós procuramos um árbitro que possa decidir a questão, um juiz tendencialmente neutro que diga de que lado está a razão, quem tem direito ou não.
Imagine que você compre um produto e não pague as prestações do seu carnê. O que acontece? Seu nome vai parar no Serasa, você fica sem crédito na praça, e o seu credor pode pedir a execução judicial de seus bens para quitar a dívida.
Quando um comerciante vende uma mercadoria ilegal ele não pode, obviamente, recorrer a um juiz para processar um consumidor, para ter a dívida quitada. Ao mesmo tempo, o vendedor, querendo manter seu negócio, tem que agir de modo a impedir que outras pessoas sigam o exemplo do devedor e passem também a não pagar pela mercadoria comprada. Assim, o narcotraficante tem que desestimular a conduta do “comprar e não pagar”. O que ele pode fazer exceto coagir, e, em última instância, assassinar o comprador?
De mesmo modo, para expandir seu mercado, conquistar mais clientes num mercado ilegal, ele pode proceder de duas maneiras. Ou aumenta a qualidade do seu produto ou tenta tomar, geograficamente, a “vendinha” do outro comerciante. A primeira opção é quase que inviável já que não tem nenhum órgão ou Inmetro que ateste o grau de pureza de uma droga. Assim sendo, como empresário racional que é, visando aumentar seus lucros, ele busca o único caminho aberto e toma-o à força, na bala.
A proibição também afeta, sobremaneira, as forças de segurança, principalmente a polícia. Na ilegalidade, o traficante precisa se proteger para sobreviver. A proteção incluí a corrupção da polícia, para que não ameace o andamento dos seus negócios. Muito dinheiro envolvido, corrupção, achaque, compra de juízes. Ele quer se manter fora do alcance das forças repressivas, e a melhor maneira de conseguir isso é justamente se imiscuir, criando uma relação de simbiose.
Há também uma relação quase que de necessidade entre o tráfico de drogas e o de armas. Pelos motivos acima expostos podemos perceber que se a proibição gera e estimula esses comportamentos, os chefes do tráfico precisam de armamentos pesadíssimos, de alto poder de destruição, seja para tomar um ponto de venda, seja para atirar de cima de um morro contra a polícia, que atira de volta, sem muita mira e precisão, o que acarreta as nossas mundialmente famosas “balas perdidas”.
Quem sofre com isso? A população indefesa, pega no fogo cruzado entre rifles e pistolas. A população indefesa, que tem que proteger o traficante sob pena de ser réu numa justiça paralela, que é a única que o tráfico conhece.
E, só para mencionar, forma-se ainda uma extensa rede de lavagem de dinheiro do tráfico, bancos e paraísos off-shores que se prestam a esquentar, legalizar o dinheiro obtido ilegalmente. Mas ninguém, por mais puritano e proibicionista que seja, pensa em invadir a Suíça em nome da “guerra às drogas”.
Nem mesmo coagi-la a abrir suas contas. A Suíça é, desde 2002, signatária da ONU. Alguém levantou a voz para que fosse votada alguma sanção a este paraíso fiscal, de lavagem de dinheiro? Não! O capital gerado pelo comércio de armas, drogas, tem livre circulação no mundo, e é bem vindo e estimulado em diversos países… mas é muito mais fácil culpabilizar o consumidor!
Defender a liberação das drogas é, pra mim, um dever ético, ao mesmo tempo que se presta a uma lógica utilitarista. Não sei se a liberação resolveria problemas da violência, mas, com certeza, a proibição a estimula.
O México prova isso. Os morros cariocas também. As vítimas somos nós, baixas colaterais no meio de uma guerra que não terá fim, não, ao menos, enquanto essa política continuar. Afinal, diria Clausewitz, guerra é a política continuada por outros meios.
FONTE: http://colunistas.yahoo.net/posts/4852.html
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